Crônica classificada no concurso Mario Quintana. Antologia 2005/2006. Sintrajufe
Cocktail Party
Ah! Mario,
deves ter ficado feliz naquela noite. Teu anjo, por certo, trabalhou
muito te elevando para que vices e ouvisses tudo que se passou.
Melhor, acho que tu é que o carregaste, já que tens duas asas, e
ele coitado, só tem uma. A outra ainda está quebrada? Bom, pergunto
porque as noticias que tenho de ti são meio antigas. Como eu
gostaria de ver a tua cara naquela noite. Te imagino olhando o povo
que esperava para entrar no teatro. Que coisa, em Mario, tinha o
homem que indignado por não poder entrar falava que era da imprensa,
gesticulava sem parar, esfregava reportagens nas vidraças da entrada
do teatro, todo mundo se irritou, menos tu, não é mesmo?
Devias rir
daquele teu jeito irônico, afinal teu lugar estava garantido acima
de nossas cabeças. E a mulher que queria saber se do lado de
fora ia também ser servido o cocktail. Bom aí, acho que deu pra
ouvir tua risada.
Pra mim,
esqueceram de mandar o convite. Imagina então eles não sabem que te
amo de paixão, que minha poesia é inspirada em ti, ora bolas. Sai
preparada de casa para dizer que tu já me havias convidado. Mas não
foi preciso mentir. Quando me vi sentada no teatro senti que começava
a mágica, tudo o que havia do lado de fora eu esqueci. Não sei
dizer se havia silêncio, só sei que para mim apenas tua presença
contava. Ouvir tua voz naquele poema... Tu realmente estavas ali. E a
tua musa, em Poeta? Te imaginei sorrindo, chorando, tocando seus
cabelos dourados, aspirando para o fundo de teu coração cada
palavra dela, colhendo em tuas mãos seus gestos delicados, naquele
momento tu e ela eram um só corpo um só sentimento.
E o grande
espetáculo terminou. Mas lá fora começavam os comes e bebes,
muitos encontros muitos abraços e para alguns muito vinho. Imagino
teu olhar brincalhão teu riso irônico ao ver a velhinha bebendo
além da conta. Ou estavas ainda refugiado no coração da Bruna e
nem viste o porre da velha.
Eu e minha
amiga deixamos a simpática criaturinha em casa, ela nos disse seu
nome, o telefone e entrou de mansinho no portão de casa. Mas agora
penso, será que ela estava bebinha mesmo? Vai ver estava tonta de
emoção. De minha parte, estou acostumada a beber tua poesia a
muito, muito tempo. Mas o que aconteceu naquela noite só poderá ser
superado se um dia minha poesia puder se encontrar com a tua .
Gerci Oliveira Godoy
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